Educação antirracista não é extra — é urgente
- Luciana Tudeia
- há 3 dias
- 2 min de leitura
Enquanto o racismo estrutural for ignorado, a escola continuará a reproduzir exclusões.

Educar sem considerar a raça é educar de forma incompleta — e muitas vezes violenta. A escola, que deveria ser um espaço de construção de cidadania e acolhimento, frequentemente se torna um território hostil para crianças e jovens negros. Isso acontece porque o racismo estrutural não está apenas nas ruas: ele atravessa o currículo, os livros, os silêncios, os olhares e os discursos pedagógicos.
Por isso, afirmar que a educação precisa ser antirracista não é um posicionamento ideológico: é um compromisso ético com o direito à existência plena. E é também uma exigência legal — conforme determinam as Leis 10.639/03 e 11.645/08, que ainda hoje são negligenciadas pela maioria das instituições de ensino.
O que é, afinal, uma educação antirracista?
Nilma Lino Gomes, referência essencial nas discussões sobre relações étnico-raciais, nos lembra que a escola é um espaço de disputa simbólica. Ou seja: quem ensina o quê, como e para quem é uma decisão política. Uma educação antirracista reconhece que não basta incluir a história africana no currículo — é preciso mudar a forma como a escola olha, nomeia e se relaciona com os corpos negros.
Educar de forma antirracista é:
Questionar o eurocentrismo que define o que é conhecimento válido;
Valorizar culturas, saberes e experiências afro-brasileiras e indígenas;
Combater práticas pedagógicas que reproduzem estereótipos;
Formar educadores(as) para o enfrentamento do racismo como prática cotidiana.
Por que a escola ainda falha nisso?
Apesar da legislação, muitas escolas ainda tratam a temática racial como um “evento”: um mês da consciência negra, uma aula pontual, uma atividade lúdica. Isso reduz a complexidade da questão e mantém o racismo como uma exceção, quando na verdade ele estrutura as desigualdades escolares.
Kabengele Munanga aponta que a omissão do debate racial nas escolas é uma forma sofisticada de perpetuação do racismo. A ausência de representatividade, de conteúdos críticos e de profissionais preparados contribui para o adoecimento emocional de estudantes negros, que crescem sem se ver, sem se reconhecer e sem se afirmar.
Quais os impactos da educação antirracista?
Estudos e experiências práticas mostram que escolas que adotam uma abordagem antirracista:
Reduzem casos de bullying e conflitos disciplinares racializados;
Aumentam o engajamento e autoestima de estudantes negros;
Fortalecem o vínculo entre escola e famílias negras;
Promovem um ambiente mais saudável e inclusivo para todos.
Além disso, como afirma Sueli Carneiro, o acesso à narrativa da própria história é uma forma de poder. Uma escola antirracista não apenas ensina conteúdos, ela devolve humanidade.
Como começar?
Implementar uma educação antirracista exige mais do que boa vontade. É preciso compromisso institucional, formação contínua e acompanhamento. Algumas ações possíveis incluem:
Formação docente sobre relações étnico-raciais
Revisão do projeto político-pedagógico
Inclusão de materiais e autores negros no currículo
Ações com estudantes e famílias
Diagnóstico institucional e plano de ação personalizado
A escola não pode continuar formando cidadãos para um mundo que ela mesma se recusa a transformar.
Educar de forma antirracista é um ato de coragem. Mas é também um ato de amor — amor à justiça, à verdade, à infância e à vida. Enquanto houver uma única criança negra se sentindo inferiorizada dentro da escola, a urgência continua. E a responsabilidade é de todos nós.
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