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Educação antirracista não é extra — é urgente

Enquanto o racismo estrutural for ignorado, a escola continuará a reproduzir exclusões.


Educar sem considerar a raça é educar de forma incompleta — e muitas vezes violenta. A escola, que deveria ser um espaço de construção de cidadania e acolhimento, frequentemente se torna um território hostil para crianças e jovens negros. Isso acontece porque o racismo estrutural não está apenas nas ruas: ele atravessa o currículo, os livros, os silêncios, os olhares e os discursos pedagógicos.

Por isso, afirmar que a educação precisa ser antirracista não é um posicionamento ideológico: é um compromisso ético com o direito à existência plena. E é também uma exigência legal — conforme determinam as Leis 10.639/03 e 11.645/08, que ainda hoje são negligenciadas pela maioria das instituições de ensino.

O que é, afinal, uma educação antirracista?

Nilma Lino Gomes, referência essencial nas discussões sobre relações étnico-raciais, nos lembra que a escola é um espaço de disputa simbólica. Ou seja: quem ensina o quê, como e para quem é uma decisão política. Uma educação antirracista reconhece que não basta incluir a história africana no currículo — é preciso mudar a forma como a escola olha, nomeia e se relaciona com os corpos negros.

Educar de forma antirracista é:

  • Questionar o eurocentrismo que define o que é conhecimento válido;

  • Valorizar culturas, saberes e experiências afro-brasileiras e indígenas;

  • Combater práticas pedagógicas que reproduzem estereótipos;

  • Formar educadores(as) para o enfrentamento do racismo como prática cotidiana.


Por que a escola ainda falha nisso?

Apesar da legislação, muitas escolas ainda tratam a temática racial como um “evento”: um mês da consciência negra, uma aula pontual, uma atividade lúdica. Isso reduz a complexidade da questão e mantém o racismo como uma exceção, quando na verdade ele estrutura as desigualdades escolares.

Kabengele Munanga aponta que a omissão do debate racial nas escolas é uma forma sofisticada de perpetuação do racismo. A ausência de representatividade, de conteúdos críticos e de profissionais preparados contribui para o adoecimento emocional de estudantes negros, que crescem sem se ver, sem se reconhecer e sem se afirmar.


Quais os impactos da educação antirracista?

Estudos e experiências práticas mostram que escolas que adotam uma abordagem antirracista:

  • Reduzem casos de bullying e conflitos disciplinares racializados;

  • Aumentam o engajamento e autoestima de estudantes negros;

  • Fortalecem o vínculo entre escola e famílias negras;

  • Promovem um ambiente mais saudável e inclusivo para todos.

Além disso, como afirma Sueli Carneiro, o acesso à narrativa da própria história é uma forma de poder. Uma escola antirracista não apenas ensina conteúdos, ela devolve humanidade.


Como começar?

Implementar uma educação antirracista exige mais do que boa vontade. É preciso compromisso institucional, formação contínua e acompanhamento. Algumas ações possíveis incluem:

  • Formação docente sobre relações étnico-raciais

  • Revisão do projeto político-pedagógico

  • Inclusão de materiais e autores negros no currículo

  • Ações com estudantes e famílias

  • Diagnóstico institucional e plano de ação personalizado

A escola não pode continuar formando cidadãos para um mundo que ela mesma se recusa a transformar.


Educar de forma antirracista é um ato de coragem. Mas é também um ato de amor — amor à justiça, à verdade, à infância e à vida. Enquanto houver uma única criança negra se sentindo inferiorizada dentro da escola, a urgência continua. E a responsabilidade é de todos nós.

 
 
 

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